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Foto: Arquivo Pessoal
Matéria atualizada em 2 de janeiro de 2020, às 19h15min
O ano começou com o assassinato de mais uma mulher transexual na Região Central. Em quatro meses, esse é o quarto caso registrado na região - os outros três casos aconteceram em Santa Maria nos meses de setembro e dezembro (leia mais abaixo). A vítima mais recente foi Selena Peixoto, de 37 anos, morta a tiros na noite de 1º de janeiro em Dilermando de Aguiar. Selena foi atingida por três tiros, dois de raspão no pé e na perna e um que atingiu as costas da vítima. A estatística preocupa a comunidade LGBTQI+ e autoridades da cidade.
- A gente fica cada vez mais preocupado e triste com essa estatística. É uma população que, muitas vezes, vive à margem da sociedade e por isso é considerada mais vulnerável. Ainda não se sabe o que pode ter motivado a morte da Selena, mas acreditamos e esperamos que tudo seja esclarecido - destaca a advogada Marina Callegaro, que acompanha os casos das mulheres trans assassinadas na região.
Onde é preciso avançar para coibir a violência contra transexuais
O velório de Selena deve começar no início da tarde na Capela 1 do Hospital de Caridade. O sepultamento será as 9h desta sexta-feira no Cemitério Municipal Jardim da Saudade, no Bairro Caturrita.
LÍDER ESPIRITUAL
Selena era conhecida pelo seu trabalho como líder espiritual na região. Ela era mãe de santo e realizava atendimentos na chácara onde morava com o esposo, na localidade de Banhados, interior de Dilermando de Aguiar. Selena era casada há cerca de 15 anos.
- Agora, fica a lembrança da pessoa maravilhosa que ela era e o agradecimento pelo que ela fez pelas pessoas. Tivemos sorte de poder ter convivido com ela - conta o amigo de longa data, Pai Tide de Iemanjá.
Tide lembra que Selena estava animada com o aniversário de 38 anos, que seria comemorado na próxima terça-feira, dia 7. A transexual era apaixonada por animais e criava cavalos em sua chácara. Para a sobrinha Maiara Zeppenfeld, Selena sempre foi benevolente com quem necessitava de ajuda.
- A tia sempre foi uma pessoa simples. Ela gostava de "morar para fora", junto com os animais. Ela adorava criar bichos. Sempre foi uma pessoa humilde e querida por onde passava. Sempre foi uma pessoa prestativa, muitas vezes tirava dela mesmo para ajudar quem precisava - afirma a sobrinha.
Número de assassinatos em 2019 foi o menor em 6 anos
INVESTIGAÇÃO
De acordo com a delegada Alessandra Padula, responsável pelas investigações, a Brigada Militar (BM) de Santa Maria foi chamada à Unidade de Saúde Ruben Noal, no Bairro Tancredo Neves, onde a vítima havia entrado no começo da noite. O companheiro da vítima afirmou que ela tinha passado por um derrame. Entretanto, foram constatados ferimentos de bala na perna e no pé da vítima. Após isso, o homem mudou a versão e afirmou que os dois estavam em casa, e um carro parou em frente a residência. Selena foi chamada pelo nome e saiu de casa. O homem ouviu os disparos e a encontrou ferida.
A Polícia Civil trabalha para apurar se a versão dada em depoimento procede e quais as possíveis motivações que levaram ao crime. Ainda não há como concluir se o caso se trata de um crime de ódio, segundo Alessandra Padula.
- Eu acho muito prematuro para dizermos que é um crime de ódio. Não sabemos realmente se foi alguém de fora, se é um crime ocorrido dentro de casa, se é em virtude da condição de transexual. Precisamos apurar para poder dizer - explica a delegada.
QUARTA VÍTIMA TRANS
No dia 7 de setembro, Carolline Dias, 27 anos, foi morta com um tiro nas costas em Santa Maria. O assassinato de Carolline ocorreu na esquina das avenidas Presidente Vargas e Borges de Medeiros. Uma pessoa foi indiciada pelo crime e está na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm).
No dia 13 de setembro, Mana, 37 anos, foi morta a facadas por dois homens. O crime aconteceu na Zona Oeste e a dupla autora também está na Pesm. Depois dos dois assassinatos, um protesto foi organizado no Centro pedindo Justiça pelas duas mortes e defendendo o fim da homofobia.
Em 12 de dezembro, Verônica Oliveira foi morta com uma facada. O caso também aconteceu na esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Avenida Presidente Vargas. Segundo as investigações, Verônica foi morta por causa de uma desavença em relação a um programa sexual. Um jovem foi indiciado pelo crime e está na Pesm.
*Colaborou Janaína Wille